quinta-feira, 28 de julho de 2011

Não é fácil negar o que se quer, quando se tem o que precisa. A solidão faz de mim uma pessoa sem desejos, onde o que tenho é presente, o que ganho é lucro e nada tenho a perder. Sou a única coisa que tenho, e a única que quero ter. E no fim das contas, morrerei com a certeza de que realizei meus desejos, ou ao menos tentei, e não com a culpa de ter fracassado com os desejos de outras pessoas. Me conquistar não é difícil, basta nunca se entregar a mim!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Meses se passaram desde a ultima vez que ficamos juntos, muita coisa mudou. Ainda me lembro do seu cheiro, e as vezes chego a senti-lo em minhas roupas, talvez seu perfume ainda esteja gravado nelas, ou talvez seja simplesmente um sinal de que meu inconsciente ainda está preso à você. Lembro-me de como comecei a gostar de você, sinto saudade. Tanta inocência ao te chamar de meu amigo, mas no fundo todos sabem que nós fomos muito além disso. Passar na sua janela e te gritar. Que inconseqüente o nosso primeiro beijo, me lembro de detalhes deste dia. Estávamos conversando sobre homens, os homens que eu dizia gostar, mas no fundo eu só estava tentando te fazer ciúmes, tentativa mal-sucedida, você chegava a concordar e me dar força, eu não resisti e te beijei. Não me lembro de mais nada deste dia, apenas de sair correndo, e de você me gritar. Foi magnífico! Me lembro das flores que você me mandava, e minha mãe dizia “você não pode deixa-las a vida toda aí”, mas o que fazer? Foi você quem me deu, eu simplesmente não podia jogar fora, elas eram uma parte de você. Lembro-me de você me dando aulas de violão, e sempre tocando aquela nossa música para mim, queria ter aprendido a toca-la. Vejo as nossas fotos, não foram muitas, mas jamais serão apagadas. Lembro das nossas brigas, brigávamos por tudo, por todos, as vezes me faltavam argumentos e você sempre tinha razão, eu odiava isto. Vejo as fotos que você sempre tirava de mim dormindo, e sinto que meus sonos nunca mais foram iguais, sempre falta uma parte, um pedaço de mim, que ficou em você. É como você mesmo me disse uma vez “Nós não iremos nos casar, nem ter filhos, isto nós iremos fazer com outra pessoa, mas amar? Isto será um sentimento único nosso, de um pelo outro. Eu te amo”.

domingo, 17 de julho de 2011


Não seja uma mulher fácil, minha filha. Nós crescemos ouvindo isso, não é mesmo? E, como boas meninas, obedecemos. Nos tornamos tão difíceis, mas tão difíceis que nos perdemos até do nosso próprio desejo.Quantas vezes você esteve a fim de um cara, suficientemente a fim para a noite não terminar na porta do seu prédio, mas não o chamou para subir apenas por medo de parecer uma moça fácil? Com medo de ele não te procurar de novo? Com medo do que ele iria pensar de você? Não sei você, mas eu acho que nós estamos vivendo com medo demais.
Então eu tenho boas e más notícias. A má notícia é que você perdeu várias oportunidades de ser feliz, perdeu seu tempo, com essa coisa de ser difícil – difícil, em primeiro lugar, para si mesma. A boa notícia, oba, é que os homens não se importam com o fato de uma mulher transar ou não na primeira noite. Um homem de verdade, que não seja criança nem babaca, não vai te julgar depreciativamente por transar na primeira noite, nem vai deixar de ter algo sério com você baseado na velocidade com que você tirou a roupa.
Meus amigos me juram de pés juntos – não um, não dois, mas vários deles – que se um homem não te procura para uma segunda noite, se ele desaparece, é porque, antes mesmo de transar, ele já não estava muito a fim de você. Não haveria uma segunda noite de qualquer maneira ou, em bom português, ele só estava a fim de dar umazinha. E como é que você vai saber quando a coisa é para valer e quando não é? Aí é que está: você não vai saber. Por isso o único jeito é viver. Se preservar em nome da regra arcaica "não seja uma mulher fácil" só te protege, te afasta e te esconde de uma coisa: do seu próprio desejo.
O termo "dar" às vezes engasga na minha garganta. Tudo bem, eu uso, você usa, todo mundo usa, não sejamos radicais, mas pensando um pouco sobre o seu significado, parece que os homens comem e as mulheres dão, eles ganham e a gente perde. Será que é verdade? Claro que não. Sexo é troca. Ambos dão, ambos recebem, mix total de intenções e braços e pernas. Portanto, não há um conquistador e uma conquistada, um guerreiro e uma vítima, alguém que ganha e alguém que perde. O que há são pessoas adultas que se conhecem, se sentem atraídas uma pela outra e decidem ou não passar aquela primeira noite juntos.
O escritor William Faulkner disse: "Escrever é fácil ou é impossível". Estar com alguém também deveria ser assim: fácil, quando se deseja, impossível, quando não. É válido dar um tempo para conhecer o outro? É bom querer saber onde se está pisando? É útil se certificar de que a experiência não será uma fria completa? Sem dúvida! O que não é válido, nem bom, nem útil é podar seu desejo apenas por medo de ser considerada uma mulher fácil.
Quando minha filhinha crescer, eu já sei o que vou ensinar a ela: meu amor, seja uma mulher fácil. Fácil, em primeiro lugar, para você mesma.
(Stella Florence)

sábado, 2 de julho de 2011

Onze da noite. Toca o telefone. É uma amiga, arrasada depois de levar o fora do namorado...

- Ele parecia uma pedra de gelo, Stella, acabou tudo. Está doendo tanto...
- Ah, querida, não fica assim: você vai superar esse cara, você sabe que vai passar.
Depois de uma hora desligamos. Vesti meias de lã. Tomei um copo de chá. Devolvi os livros para a estante. Guardei a roupa passada. Fiquei assim, indo de um canto para outro sem saber exatamente o que me atormentava. Então, a ficha caiu.
É mentira. A maior mentira que nos contaram - e que nós, piamente, acreditamos - é essa, a de que tudo passa. Nada passa. Passa coisa nenhuma.
A gente aprende a viver com as escaras, aprende a colocar ungüentos nos talhos fundos, conhece outras pessoas que são como bálsamos sobre as nossas feridas, mas elas, as sanguinolentas, as danadas, as malsãs, elas não passam. Uma mulher é uma chaga sempre aberta. Um homem é uma ferida sempre exposta. Nada passa.
Sentimentos? Eles se transformam em outros sentimentos, mas não passam. As pessoas que você amou, nunca te causarão indiferença (indiferença, o oposto do amor), sua única certeza é que você sempre vai sentir algo quando as encontrar – bom ou ruim, muito bom ou muito ruim. As pessoas que te menosprezaram, te usaram ou simplesmente te rejeitaram, continuam, cada qual com sua adaga, perfurando seu amor-próprio, dia após dia, umas mais, outras menos.
Somos todos, homens e mulheres, mestres no fingimento, na dissimulação, no recalque, mas a verdade é que nada passa. Por isso você vê uma mulher histérica ao pegar uma cebola podre no supermercado, por isso você vê o homem agindo como um primata no trânsito, por isso seu chefe estoura sem razão, por isso você teve uma crise de choro durante aquele filme que nem triste era, por isso as pessoas têm chiliques inexplicáveis: porque nada passa e nós precisamos de válvulas de escape.
Fica sempre um pouco de tudo, escreveu Drummond, às vezes um botão, às vezes um rato. Se você me vir tendo um chilique ao pegar uma cebola podre no supermercado, já sabe o que é: são as cócegas malditas dos meus malditos ratos. Porque tudo muda, mas nada, nada passa.

(Stella Florence)