sábado, 26 de março de 2011

Sutilmente, ele pegou nas delicadas mãos dela, e lhe disse:
_ Apenas escute a música, sinta-a. Feche os olhos, e pense, pense em qualquer coisa, sinta todo esse momento em seu pensamento.
Ela não se preocupava com a liberdade de seus pensamentos, não tinha o que temer, estava na presença de uma das poucas pessoas com o qual ela jamais teria um relacionamento.
E então a música começou.
Ele suavemente deslizava as mãos sobre o rosto da garota, entrelaçava os dedos sobre seus cabelos e tentava se controlar da perdição que estava prestes a cometer.
Ela, que antes pensou que esta situação seria apenas uma demonstração de amizade, se pegou imaginando cenas de beijos e romances, pelos quais ela sentia grande rejeição. Talvez por nunca ter sonhado com tais coisas, especialmente com romances proibidos e que nunca dariam certo. Lembrou da pobre Julieta, que morreu por um amor proibido, e do pobre Romeu, que jamais desistira de sua amada.
E então a música parou, e o silêncio tomou conta de todo o ambiente, mas eles pareciam não se importar, ficaram se olhando como se soubessem o que ambos haviam acabado de imaginar.
Ela, sem saber exatamente o que fazer, disse:
_ Isso foi incrível, qualquer mulher neste mundo sonharia em estar com alguém como você...
Neste momento, ele a segurou e não a deixou dizer mais nenhuma palavra, e com as mãos em sua face, lhe deu um beijo.
Não um simples beijo, um beijo que jamais poderia ter acontecido, um beijo proibido, um beijo que representava não só o que ambos sentiam nesse momento, mas uma guerra entre famílias, exatamente como no clássico.

segunda-feira, 21 de março de 2011


A tentativa de aperfeiçoamento pessoal não é a solução. Talvez a solução seja causar o próprio sofrimento, ou tentar ser o pior que pudermos ser. Só assim saberemos o quão superior é nossa força interior. Quanto mais rápida for a superação, mais fortes poderemos ser!

domingo, 20 de março de 2011

Proposta


Ela estava completamente linda. Havia passado 5 horas do seu dia se produzindo fisicamente, e 25 anos de sua vida se produzindo intelectualmente. Tudo para esse encontro. Tudo para esse dia, essas poucas horas, que pareciam ser o começo de um novo caminho, traçado por um corte de cabelo, um vestido de marca, e vários, vários livros.
Então, parada na porta da igreja, ela decide entrar. Tudo parou, todas as pessoas a seguiam com os olhos, e logo adiante ela o avistou, o homem pelo qual ela deixou de ir para a balada com as amigas na faculdade, o homem pelo qual ela se fechou completamente para outros relacionamentos, sim, o mesmo homem que a fez perder noites de sono e dias de paz. Ele estava com os lábios levemente abertos, mas não parecia se importar, seus olhos completamente fixos nela, revelavam todo o amor que ambos sentiam nesse momento.
Ela foi caminhando devagar, cada passo um elogio, “nossa, como ela está linda!”, era o que as pessoas diziam. Ela não se importava nem um pouco com a atmosfera do resto, parecia enxergar apenas uma pessoa, ele!
Então, se posicionando ao altar, eles deram as mãos, e uma suave lágrima correu sobre os olhos de ambos. A música, os convidados, a decoração, tudo parecia se encaixar perfeitamente. Estava tudo perfeito!
Ela não conseguia se fixar a nada, seu pensamento estava preso na cozinha de decoração verde da nova casa, seu novo lar, nos filhos com os olhos azuis herdados dele, imaginou um menino cantando ‘Don’t let me down’ pela casa, imaginou como seriam as férias de agora em diante, e até mesmo como seria viver como um casal que gosta das mesmas músicas, mas não dos mesmos filmes, e indagou se finalmente aprenderia a cozinhar. Pensou em tudo, menos no que o padre dizia. Até que começaram os votos:
_ Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-a e respeitando-a até que a morte os separe?
Ele, entre soluços, diz : _ Sim, eu prometo!
Enquanto o padre repetia o mesmo a ela, ela pensava em outras coisas, pensava se ele prometeria também não ser uma pessoa controladora, e que respeite a individualidade dela, se ele sabia que ela estava com ele por livre e espontânea vontade, se ele seria também seu amigo, se ele seria romântico, sem dupla identidade, se eles formariam um casal maduro, sem cobranças, mas sonhadores, que pensem em ‘nós’, não em ‘eu’ e ‘você’, se ele sentia prazer em estar com ela, e se sentia feliz por ter feito essa escolha, se ele seria gentil, carinhoso e educado, pensou no que eles fariam caso caíssem na rotina, e pensou se ambos seriam os mesmos que eram antes de entrar na igreja. Então ela pensou, ‘ele sempre foi tudo isso, eu confio nele, e confio mais ainda em mim por ter feito essa maravilhosa escolha’
E responde: _ Sim, eu prometo!
O padre, com um leve sorriso no rosto diz:
_Então os declaro, marido e mulher!
Sentindo-se a pessoa mais realizada do mundo, ela pensou “eu os declaro mais que marido e mulher, os declaro maduros”.